quarta-feira, novembro 30, 2011

Abram suas caixinhas de percepções e sejam bem-vindas (os)

Felipe Garcia Garcia

O grupo de dança "Mais Um Grupo de Dança" conclui nesta sexta-feira e sábado, a série das sete apresentações do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), nos dias 02 e 03 de dezembro, no auditório do IA (Instituto de Artes da Unicamp). O espetáculo de dança intitulado "Sim, Pela Cintura" é um trabalho feito pelas alunas da graduação da dança da Unicamp e foi desenvolvido em cima de esquetes criadas, baseando-se em estímulos fotográficos e textuais de diversos autores.

Toda a montagem e a produção da apresentação contou com várias parcerias e colaborações interessantes, cada um na sua frente artística, que agregaram para acrescentar e enriquecer o processo. Entre elas, o fotógrafo Pedro Spagnol, a artista Jéssica Coqueiro, o músico Ivan Gomes de Oliveira e a colaboração do Coletivo Ajuntaê.
"Em verdade vos digo que chegará o dia em que a nudez dos olhos será mais excitante
que a do sexo" Lygia Fagundes Telles

O espetáculo, que absorve fragmentos do teatro, apresenta uma proposta totalmente plural e criativa em sua concepção, pois com uma não-linearidade declarada, logo no início, consegue acalentar os mais despretensiosos sussuros e suspiros vislumbrados na platéia, que exaustivamente incita  expressões e reações das mais relativas.

Herdando fragmentos de sua própria temática e, abusando de altíssima densidade, subjetividade e lirismo, a apresentação concebe um tema central, o corpo feminino, em suas mais intimas interações com os dogmas da essência humana. Tece, sem nenhum pudor, quebras de processos dolorosos do nosso ser, propondo as suas relações agudas quando contempla-se o encontro "ao outro". Numa sociedade que reflete seus traumas, travas, ansiedades, inseguranças e limitações, o espetáculo vivência com dores e delícias, doces e amargos, usufruindo do tudo e do nada, as mais deliciosas brasas da nossa existência.

De tão subjetiva incomoda e, ao mesmo tempo, conquista os olhos a quem entendeu um pouco mais da aturdida sensação de exatidão que certas poesias causam. O mais interessante é que de tão dialética a sua linguagem e a dinâmica apresentada de seus atos - tendo vida tão própria - faz 'exatamente' que suas expressões falem mais do que o florescer de sua própria intenção.

E é esse o belo e o saboroso da arte, ao qual o espetáculo soube muito bem namorar, pois vai realmente além do masculino ou do feminino, do machismo ou do feminismo, ou de qualquer definição de gênero cabivel que se mostra insustentável por si só. Vislumbra o desprendimento. Fala de relações, e propõe as desgraças de nossos desgastes mais humanos. Ainda bem que nossa natureza é cíclica e, talvez, essa característica represente, exatamente, os únicos respiros e alívios do espetáculo.
Tocando cada pessoa de um jeito diferente, realçando as inspirações e aspirações de cada olhar em si, cada corpo com suas imperfeições recebendo um novo, dissimulado e diferente toque. É o que faz, artisticamente, romper e quebrar nossas desvairadas maldições. Todo esse cortejo apenas para trovar-lhes: abram suas caixinhas de sensações e sejam bem-vindas (os).



Um comentário:

Marcelo Fort disse...

Gostei da matéria mano